A Blumhouse se notabilizou de tal forma como arthouse do cinema de terror que um lançamento como “Verdade ou Desafio” ganha contornos especiais. Rodado com pouco mais de US$ 3 milhões, a produção já arrecadou US$ 35 milhões em pouco mais de dez dias nos EUA. Pode não parecer muita coisa em face da arrecadação de “Corra!” (US$ 65 milhões) e “Fragmentado” (US$ 67 milhões) no mesmo período, mas este é um filme bem menos ambicioso comercialmente.
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“Verdade ou Desafio” é a pasteurização do modus operandi da Blumhouse. Jeff Wadlow, que já havia dirigido o esquecível “Cry Wof: O Jogo da Mentira” (2005), dirige um filme em que é possível notar a espinha dorsal da produtora, que vai se estabelecendo como a Pixar dos filmes de terror.
Há traumas emocionais e psicológicos encrostados nos protagonistas e que vão ganhando a superfície aos poucos, bem como um cuidado incomum no desenho dos personagens e dos seus conflitos. Aqui, Olivia Barron ( Lucy Hale ) e Markie Cameron (Violett Beane) são amigas para a vida, mas têm gostos diferentes para tudo, com exceção de Lucas (Tyler Posey), namorado da segunda, mas que parece corresponder ao desejo da primeira.
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No meio de toda essa tensão sexual e intriga, os personagens participam de um jogo de verdade ou desafio durante uma viagem ao México que ganha contornos macabros e continuidade quando eles voltam para casa.
Nesse sentido, o filme se aproxima de “Premonição” (2000), um clássico do terror teen da geração passada. Falta a Wadlow, no entanto, o engenho visual e criativo para segurar todas as mortes que vão pipocando conforme a entidade demoníaca – invocada em um ritual em circunstâncias curiosas – vai desafiando os participantes do jogo.
O elenco compensa a falta de talento com carisma. Tem o jovem gay (Hayden Szeto), o metido a galã (Nolan Gerard Funk), a namorada do metido a galã (Sophia Ali) e por aí vai. O mérito do filme reside principalmente em buscar o diálogo com seu público-alvo. É um filme com potencial para ecoar melhor junto a uma faixa-etária de até 24 anos. Das tecnologias aos dilemas, tudo remete a este universo.
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Há dois ou três bons momentos no filme e isso não é pouca coisa para uma produção que se pretende tão industrial como “Verdade ou Desafio” . Eis aí uma prova de que, por mais que atue no atacado, a Blumhouse não dá sinais de que vá descuidar dos predicados que a tornaram notável.